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Arte e vida

Auzim Freire


“O Poeta beija tudo, graças a Deus.
E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade…
E diz assim: 'É preciso saber olhar…'.
E pode ser, em qualquer idade, ingênuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos.
E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás…
E perde tempo (ganha tempo…) a namorar uma ovelha…
E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de Sol depois de um dia chuvoso…
E acha que tudo é importante…
E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim…
E reparou que os homens estavam tristes…
E escreveu uns versos que começam desta maneira:
‘O segredo é amar…’.”


(Sebastião da Gama)

 Obs: A 1ª obra do poeta "Amanaiara e outras histórias" pode ser vista no seguinte endereço: http://vidaarteedireito.blogspot.com/p/regional-auzim-freire.html

Estrada da Vida
Milionário e José Rico


Vida de Simplicidade





Tenho uma vida de simplicidade
Obedecendo aos laços de meu berço
O tempo passa, mas eu não esqueço.
Aquela vida de ingenuidade
De tudo aquilo eu tenho saudade
Do carro de boi quando eu carriava
Do cavalo melado quando eu montava
Do feijão cozido com pouco tempero
Do perfume intenso da flor do pé do pereiro
Do pé de aroeira que a coã a cantava.

A mãe da lua cantando na serra
A rasga mortalha nos fazendo medo
Do carão cantando de manhã bem cedo
O cavalo relincha e o bezerro berra
Aquela frieza saindo da terra
Gorjeio feito pelos papagaios
Animal no mato tocando chocalho
O cachorro late tangendo as raposas
Na copa da mata a cigarra pousa
São essas as belezas das manhãs de maio.

No chiqueiro as cabras remoi a semente
Do reservatório que nunca se acaba
O cabrito mama balançando a calda
Colorindo o tema daquele ambiente
O fazendeiro fica tão contente
Vendo as belezas de sua fazenda
Vai dormir tranquilo fechando a sua tenda
Esperando as graças de um novo dia
Quando a passarada naquela alegria
Inicia o dia na sua contenda.

No mês de agosto está tudo seco
O vento forte carregando as folhas
Pingos de orvalho em forma de bolha
Começa a roçagem nos capins do beco
Na sombra fria do pé de esqueleto
Um touro muge preso no curral
Naquele ciclo puro e natural
Do pé da cerca a nambu se espanta
Da vargem aberta o cupido canta
Nas frondagens murchas do carnaubal.



                                                                                              (Auzim Freire)

Comparação entre a família e o pé de roseira.








Existe uma semelhança
encontrada na roseira,
é como um pai de família
a reciproca é verdadeira,
todos alimentam seus brotos,
tudo da mesma maneira.

A roseira desenvolve
flores bonitas e cheirosas,
os filhos de sua vida,
e tem as mãos criminosas
se aproximam da roseira
e retiram suas rosas.

A roseira fica aflita
acarretando tristeza,
estava tão satisfeita,
no seu perfil de beleza,
cuidando de suas rosas,
um símbolo da natureza.

Se retira aquela rosa,
por espontânea maldade,
é só pra prejudicar
aquela felicidade,
dá um cheiro e joga fora,
na maior simplicidade.

É como um pai de família
com suas filhas queridas,
dar duro e trabalhar forte,
pra ter elas e protegidas
uma filha para o pai,
é um pedaço de vida.

Quando estão tudo mocinha,
na maior tranquilidade
aparece um namorado
amigo de faculdade,
começa mudar o rumo
daquela felicidade.

A mãe diz logo para o pai,
este rapaz é formado
vou lhe tratar com carinho,
e o pai fica cismado
se cala e baixa a cabeça
e espera o resultado.

Tem algum que é sincero,
mas tem que ver o seu jeito
a maioria aparece
querendo tirar proveito,
mas pai descobre logo,
vê de longe seu defeito

Quando se tira uma rosa
do aconchego do pais,
ainda que ela volte,
no buquê não entra mais,
processo da natureza
que com franqueza nos traz.

A rosa quando se tira
precisa ter um suporte
tanto o pai como a roseira,
é um ato muito forte
os dois ficam entristecidos
pensando na sua sorte.

Quando um pai casa uma filha
fica muito satisfeito
é mais um lar construído
que todos dois tem direito,
mas é uma rosa tirada
da profundeza do peito.

Os rapazes de hoje em dia
casam mais por vaidade
decapitam aquela rosa
mas falta capacidade
de tratar ela do jeito
que seu pai tinha vontade.

Também tirei uma rosa
de uma roseira florida,
tivemos muitos aperreios
logo em começo de vida
essa rosa me aparenta
não estar arrependida.

Isso ai é o que eu penso,
observo toda hora,
se você tira uma rosa
faça dela uma senhora,
não dê três ou quatro cheiro
depois disso joga fora.

Esta rosa que eu tirei,
tratei com muito carinho,
foi a rosa mais bonita
que teve no meu caminho,
hoje temos nossos filhos
e não vivemos sozinhos.


(Auzim Freire)


Cascatinha e Inhana - Meu Primeiro Amor: http://www.youtube.com/watch?v=Yb-JhV7sDNQ&feature=related

Passagem de minha vida


Trilhando a vida, minha trajetória
Naquelas vias onde caminhei
Fico pensando como eu passei
Agradeço a Deus ter tido vitória
E estou aqui contando a história
Que vale a pena por mim ser contada
Foi muito tropeço nessa minha estrada
Mas Deus me deu muita qualidade
Para  chegar na terceira idade
De vida humilde e de felicidade.

Logo de início quando eu despontava
Meus pensamentos era diferente
Como é difícil a vida da gente
Nunca saiu nada como eu pensava
A primeira casa onde eu morava
Foi abandonada logo de início
Foram tantas quedas, tanto precipício
Abandonei o meu berço amigo
E fiquei exposto a todo perigo
Na minha vida teve tudo isso.

Eu que tinha gosto com a agricultura
Era o que tinha dentro do alcance
Mas na minha vida foi tanto balance
No tempo de eu forte com toda bravura
Não tenho mágoa daquelas amargura
Foram superadas dentro do limite
Foram tantas ideias, foi tanto palpite
Pra mim encontrar o fio da miada
Foi muito difícil essa minha estrada
Quero que você acredite nisso.

A mulher, novinha, via isso tudo
E não reclamava da dificuldade
Via isso na maior naturalidade
Peça importante nesse meu escudo
Casada com um homem que não tinha estudo
Mas tinha coragem para trabalhar
E chegou no ponto que pode chegar
Viver feliz com muita nobreza
Sem aparato de grandes riqueza
O pouco que tem dá para passar.

Na Rua do Campo a pior passagem
Ali foi tudo em dificuldade
Minha mulher com naturalidade
Assistia a tudo com força e coragem
Hoje ponho meus olhos naquela miragem
Como são difíceis as coisas do destino
Eu paro, penso, recordo, imagino
Naqueles momentos tristonhos e cruel
Quando a Socorro fazia chapéu
Para alimentar nossos dois meninos.

Vivo satisfeito com a minha vida
Com boa saúde, pequenos problema
Dá pra dirigir dentro do esquema
Nossa velhice tá bem dirigida
Nem sei se mereço essa acolhida
Que o destino me proporcionou
Agradeço a Deus por tudo que sou
Ter a vida boa com tranquilidade
Vejo meus setenta anos de idade
Contando tudo como se passou.

(Auzim Freire)


Uma família zelosa


Uma família zelosa
Começa com o matrimonio
Um dos atos mais risonhos
De força tão poderosa
Que faz a vida gostosa
E tem que ser respeitada
Exigido dos dois lados
Amor e tranquilidade
É uma felicidade
Numa vida de casado.

O teto sem matrimonio
É um chiqueiro de bode
Cada um faz o que pode
Naquele clima medonho
A tentação do demônio
Faz chegar com mais presença
Nesta família sem crença
Que não guarda preconceito
Realmente é mais sujeito
A sofrer qualquer consequência.

O animal é prudente
Não faz nada de erado
Nunca fica apaixonado
Sua postura é descente
Já o homem é diferente
Divide a vida caseira
Começa com bebedeira
Não respeita a sua jura
Esquece a coisa mais pura
Que ele fez, a companheira.

Quem respeita os mandamentos
De uma maneira ou de outra
Não fica vagando a louca
Ele tem pressentimento
Mesmo sem ser cem por cento
Mais tem luz em seu caminho
Ele recebe carinho
De sua mãe e seu pai,
Dificilmente ele sai
Na vida andando sozinho.

Filho de mãe que não casa
Que o seu pai nem conhece
De tudo que lhe aparece
Não enjeita manda brasa
Essa família se arrasa
Não sente pressentimento
Ignora os mandamento
Porque não tem quem lhe ensine
Coitado não se previne
Vive nas assas do vento.

No chiqueiro de cabrito
Filho não conhece o pai
Se vai fazer ou não vai
Se tem ou não infinito
Quem achar isso bonito
Seguir a mesma maneira
É só abrir a porteira
Não dá postura a seus filho
Com tratamento de brilho
de uma vida verdadeira.

Eu sei que deus não castiga
Quem pensa lhe obedecer
Se faz isso com prazer
Tirando o rei da barriga
Faça isso e depois diga
Se teve contentamento
Com seu bom comportamento
Obedecendo as doutrinas
O prazer que lhe domina
São delicias de primeira.

Posso ate estar distraído
Porque penso deste jeito
Nem um de nos é perfeito
Somos desapercebido
Todos nós somos caídos
O lado da perdição
Se não prestar atenção
Tem que ter muito cuidado
Pra não ser atrapalhado
Entrando na contra mão.

Eu falo isso com medo
Do que pode acontecer
Sem ninguém obedecer
As planilhas do segredo
Nós comecemos o enredo
Da vida sentimental
Pois também somos animal
Mas temos raciocínio
Precisamos ter domínio
Dividindo o bem do mal.

                                                                          (Auzim Freire)




Lembrança do interior

Nas manhãs de inverno lá do meu serrado
a neve aparece no tronco da serra,
o carão que canta e fica calado,
em cima da pedra o cabrito berra.

O tempo passou, mas nos meus ouvidos
não passa a lembrança da vida de outrora,
quando o jurití soltava o seu gemido
quando o galo cantava no romper da aurora.

Na lagoa cheia o coachar da rã,
no tabuleiro o capote estrala,
na aroeira o canto da coã
e a mata densa seu perfume exala.

Um vento forte balança o telhado,
a lua cheia ilumina a terra,
a baixa verde com tudo orvalhado,
a fumaça branca saindo da serra.

Quem daquela vida não sente saudade,
quem daquela cena não se apercebeu,
não conheceu a felicidade,
passou pela vida, mas nunca viveu.
(Auzim Freire)

Jackson do Pandeiro canta "Sebastiana" TVE 1979

Vida de sertanejo

Conheço mais ou menos o mapa geográfico daqui da cidade
Mas não tenho orgulho por lhe conhecer assim tão de perto
Sinto saudades, dividi a vida lá do meu deserto
Das matas, do monte, dos rios, dos lagos daquela vida de felicidade
E hoje no encanto da terceira idade
Olho para o tempo, os dias, as noites que passaram tão ligeiro
Fui criança, adolescente, fui rapaz solteiro
Sou feliz e levo a vida com muita saúde
Não fui herói, mas, na vida, fiz o que pude
E lhe digo assim: - nasci no capim, berço verdadeiro.


Perdi o jeito da moda roceira
Essa mudança é que me maltrata
Faço meus versos sem tocar em gaita
Feito do talo da carrapateira
Minhas caçadas, minha baladeira
Tocar as vacas e prender no curral
Depois ir andar de perna de pau
Tangendo as cabras lá do tabuleiro
Botava todas dentro do chiqueiro
Naquele clima puro e natural.

A vida é cheia de veracidade
Tenho lembranças de quando aqui cheguei
Os lindos fatos que presenciei
Num movimento aqui da cidade,
Também tem coisas que, se deixaram saudades,
Foram trocadas por moderna equipe,
Como o Farol do Mucuripe,
As luzes fortes do lindo holofote,
Nesse tempo eu era um pixote,
E do cais do porto quando tinha o dique.

O tempo passa e a lembrança fica
Das coisas lindas, mas ultrapassada
Bem que queria não lembrar de nada,
Mas minha mente não se modifica
Tenho saudade das passagens rica
Lembro daquilo com grande emoção
Quando o figueiro batia os caixão
Relembro aquilo com grande emoção
Essas lembranças no meu peito enfurno
O saudoso apito do guarda noturno
Quando ele  passava no meu quarteirão.

(Auzim Freire)






Quando eu cheguei aqui na cidade
Meio cauteloso e materialista
Passava um homem vendendo paulista
Eu tinha muita curiosidade
Sempre dizia: - eu mato a vontade
Um certo dia chamei no portão
Para mim foi grande a decepção
Com tanto tempo que eu tive a espera
Eu não sabia que paulista era
Um cuscuz de milho em forma de pão.

(Auzim Freire)





Cascatinha e Inhana - India

- Maturidade –

Olho o espelho, no meu rosto vejo
O desencanto da terceira idade
Passaram momentos que deixaram saudade
Aventuras, passagens, todos meus desejo
Passaram tão rápido como a doçura do sabor do beijo
Quando agente afaga a pessoa amada
Terceira idade é fim de estrada
Graças a deus eu tenho saúde
Na minha vida eu fiz o que pude
E vou prosseguindo minha caminhada.

Na minha vida eu demoro um pouco
Refletindo a glória deste meu tesouro
Na decorrência das bodas de ouro
Nesse mundo aflito, de momento louco
Nessa travessia de tanto sufoco
Com as graças de Deus eu fui protegido
Agradeço a tudo por ter conseguido
Mesmo quadrado como alguém me chama
Mas tenho por dentro um coração que ama
As pessoas humildes desfavorecidas.

Minha face tem as curvas da estrada
Aquelas passagens por mim percorrida
As horas marcantes que tive na vida
Que por mim jamais serão desprezada
O meu porte físico assim tão mudado
Meus cabelos pretos, todos esbranquiçados
Não sou mais aquela criança sapeca
Estou gordo, velho e ficando careca
Olhando pra trilha do tempo passado.

Valeu apena? Eu digo: - Valeu!
Hoje me sinto mais conceituado
Da vida espontânea eu sou reservado
Agradeço a tudo que a vida me deu
Minha mocidade desapareceu
Tenho uma vida de felicidade
São muitas as coisas de que tenho saudade
Não posso e nem devo ficar diferente
Agradeço tudo ao onipotente
Que abriu meus olhos me deu claridade.

(Auzim Freire)





Trechos de "O Bem Amado":
O Bem Amado ( 1973 ) - O discurso de Odorico para prefeito: http://www.youtube.com/watch?v=0huzZXT-n_g&feature=related
I Love Sucupira - Troca da Sede da ONU para Sucupira: //www.youtube.com/watch?v=KCIHSdZTAB8&feature=related